Home

 

 

 

 

 

Matana Roberts
Coin Coin, Chapter One: Gens de Couleur Libres
CD CST Records 2011

 

A saxofonista, cantora e compositora Matana Roberts assina com este Coin Coin, Chapter One: Gens De Couleur Libres, um dos mais arrebatados discos do ano, mas também um dos mais belos. Herdeira da estética free dos anos 70, Coin Coin parece afirmar a vitalidade do género, mas a verdade é que as propostas de Matana incorporam elementos que vão muito para além do free, dentro do que podemos designar genericamente de música negra. Coin Coin não pode ser observado apenas como um puro objecto musical, mas ele é também um libelo político violentíssimo contra o racismo, que os Estados Unidos, ao contrário do que muitos podem ser levados a pensar, não erradicou com Obama... O tema de abertura – “Rise” – remete para Albert Ayler e a orquestra de Don Cherry, e “Pov Piti” traz a si a poesia cáustica de Amiri Baraka. A orquestra de Sun Ra, Cecil Taylor e os rituais da Art Ensemble of Chicago entremeiam com um apontamento de vaudeville em “Kersaia”; às declamações e gritos de Matana sucedem-se vocalizações inspiradas nas work songs de “Libation for Mr. Brown: Bid Em In…” e um lullaby (“Lulla/Bye”). O disco termina com uma canção, lenta e belíssima, dedicada à mãe, recentemente desaparecida, “How Much Would You Cost”.
Natural de Chicago e membro da AACM (Association for the Advancement of Creative Musicians), Matana Roberts teve como mentores alguns dos históricos do free jazz, o que perpassa por todo o disco, mas a sua concepção tem pouco a ver com a ideia de Jazz primário (grosseiro, por vezes) que foi adoptada por muitos dos herdeiros desta corrente. Coin Coin, Chapter One: Gens De Couleur Libres é a obra mais ambiciosa – e conseguida - de Matana Roberts até à data, e o primeiro capítulo de um épico que pretende contar a história da sua família. “Libation for Mr. Brown” conta a história de um leilão de escravos e é explícita na forma como ela entende a relação da música com a política e a sociedade.
Música impetuosa, possui, como disse no início do texto, tanto de violento quanto de belo.

Ellwood Epps (t)
Brian Lipson (t baixo)
Matana Roberts (s, voz)
Fred Bazil (st)
Jason Sharp (sb)
Hraïr Hratchian (doudouk)
Xarah Dion (g preparada)
David Ryshpan (p, or)
Thierry Amar (ctb)
Jonah Fortune (ctb)
David Payant (bat, vib)
Marie Davidson (v)
Josh Zubot (v)
Nicolas Caloia (celo)
Gitanjali Jain (voz)
Lisa Gamble (serrote musical)

(Este texto foi publicado em Jazz 6/4 #16)